13 de mar. de 2019

PONTOS A PONDERAR

O MORTICÍNIO ESTÚPIDO DA ESCOLA DE SUZANO E O CRIME INEVITÁVEL

Há 40 anos precisamente, eu aprendi numa mesa de happy hour a realidade simples de que a vida é uma grande aventura. Eu trabalhava na SECOM - Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, organismo então criado por Said Farah. (*)

Todo santo dia, de segundas a sextas-feiras - que fim de semana é sagrado - a patota da Assesoria de Projetos Especiais da Presidência - de seis a sete 'celebrantes' - se reunia em happy hour no primeiro botequim aberto depois das 17 horas ali pelas cercanias da Esplanada dos Ministérios. 

Eu vou chamar de Luís, um dos caras mais habituais das nossas rodadas de chopinho e sanduíches-abertos. Ele integrava a equipe de Segurança pessoal do presidente. Era um bom papo. Até o segundo chope. Depois desses dois calava-se para sempre. Mas não ''secava-se'' - permanecia na bebericagem; apenas mudo como uma porta. 

O máximo que ele nos concedia era um sorriso amarelo, como quem não deixa perceber se está concordando ou não está gostando do que via e ouvia.

Antes que o rato comesse a língua dele, a gente trocava piadas, historietas, falava de algumas coisinhas do serviço, fazia algumas perguntas, matava a curiosidade. 

Foi numa dessas happy hours que o peguei pelos garrões. Antes que ficasse mudo, só bebericasse e não abrisse a boca para mais nada, a não ser aquele tal risinho enigmático, eu quis saber como era a vida de um segurança na hora de proteger mesmo de um taque suicida o dono da República.

- É idiota e inútil.
- Epa, como assim?!?
- Não diga nada pra ninguém, mas se o cara não se importar de ser preso, ou de ser morto, somos todos inúteis. Não há como evitar que o maluco ataque e até possa matar o presidente. 

Esbugalhei os olhos - eu acho - e ele notou. Calou-se e mais não disse naquele fim de tarde e em todos os demais dias de happy hour que a nossa turma manteve por uns dois ou três anos daquele tal de governo João Baptista.

Ali aprendi que o mundo é um perigo iminente. Se o cara traz de casa um abandono tal que impediu os pais, a família, de lhe darem formação moral, cívica, espiritual e humana para saber que, mais importante do que apenas viver é preciso saber conviver, ninguém será capaz de imaginar o que ele tem de ódio ou de recalque dentro de si mesmo. Esses troços, a gente aprende na rua. 

E então eu, você, qualquer um de nós e mais os nossos circunstantes, muito menos seremos capazes de perceber do quanto ele é capaz de infernizar a sua vida ou de quantos estejam ao alcance de seus surtos de terror repentinos, ou duradouros até que ele mesmo dê cabo à própria vida. 

Não, não padeço da síndrome do pânico, mas desde aquele boteco nas cercanias da Esplanada, há quarenta anos, que não dou chance para o azar. Esse tipo impevisível de crime, de massacre é cada vez mais tão frequente quanto inveitável. Eles continuam sem ter medo de matar e de morrer.

Essa tragédia de Suzano foi cometida por dois berdamerdas formados pela desagregação familiar. Seus pais, sinto dizer, não prestaram a devida atenção. Tinham coisas maiores e melhores para fazer. Aí, os guris medonhos se ligaram em facínoras que se dizem fanáticos e inventores de religiões e em leituras de Bíblias e Alcorões... E têm uma missão na vida: acabar com a vida dos outros 
e deles mesmos.

RODAPÉ - (*) - Por sua independência incomodar à tradicional área de comunicação militar da Presidência da República, pouco depois desses capítulos de happy hours, a SECOM foi silenciosa e redundantemente dispensada na véspera do Natal de 1980. Antes disso, emplaquei com minha assinatura e tudo no Diário Oficial da União de 1º de abril de 79, o projeto da Estrutura de Comunicação Social do Poder Executivo que vigora até hoje.

SCRIPTUM POST - De lá pra cá, as comunicações evoluíram. E às coordenadorias de jornalismo, publicidade, propaganda e Relações Públicas, juntaram-se Marketing, Merchandising, Web Media... E essas maravilhas da tecnologia que começaram fazendo com enorme simplicidade que o celular promovesse o rádio de um espetáculo local a um fantástico fenômeno internacional. O rádio hoje é ao vivo, tem cores e tem imagem.

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