NOSSO ESGRIMISTA PREDILETO
Uma
história longa. Um resumo de uma vida pública feito pela dubiedade da vida real.
O “malvado preferido” que pelos maneirismos monárquicos é um perfeito Gillette
na coisa pública. Ora transitando à esquerda, ora “puxando as barbas de
Rasputin”, ora sendo uma coisa e outra e sempre ganhando os duelos da
politicalha com o jogo de cintura de um lorde e com um louvável e aristocrático
fair-play. É o terceiro vice-presidente do PMDB
que chegou à Presidência da República sem ser eleito diretamente para o cargo.
É o nosso Esgrimista Predileto.
ERA UMA VEZ...
No tempo em que Lula e outros moluscos falavam e andavam
para o povo desse país, nascia em Tietê, interior de São Paulo, um filho de um
casal católico-maronita do meio rural destinado a ser mais do que aquele que se
dizia achava e se dizia Filho do Brasil. A sorte o fez menos que príncipe, um
presidente-tampão com ares monárquicos, tipo assim um quase-rei.
O ungido saiu do ambiente campesino, cresceu e
multiplicou-se dentro de si mesmo: fez-se advogado, político, deputado federal,
detentor de muitos cargos, doutor em direito público – eia pois que no
exercício de fato e de direito do Poder Executivo nada fará, de certo ou de
errado, por mero acaso.
Saberá sempre o que estiver fazendo. Sim, sabê-lo-á,
sempre.
DUAS
VEZES MAIS DUAS VEZES
E duas vezes vice-presidente da República, por honra e glória do Lula aquele que hoje ainda pensa que está falando e andando para quem não é da sua corriola.
Em 1954 o filho do interland
paulista entrou no movimento estudantil. Em 1964, quando deu-se a Redentora,
ele deixou o movimento – que ninguém é de ferro.
Correu a barca e nos livros que escreveu movido pela sua
vocação de escritor, revelou-se parlamentarista. Quem sabe até já intuindo
coisas & loisas para um porvir risonho em 2018...
CUNHANDO
O ESTILO
Em 1981, filiou-se ao PMDB ficando unha e carne com
Orestes Quércia. Mais tarde, bem mais tarde, elegeu-se presidente da Câmara –
cargo que exerceu por três vezes – com o apoio do babalorixá arenista ACM.
Fez então a alegria dos deputados nanicos, com salários
altos e polpudo aumento nas verbas de gabinete.
Cunhou de tal forma o seu
estilo de fazer amigos e influenciar pessoas no baixo clero que acabou sendo considerado
pelos especialistas em quadros e tabelas classificatórias, como o deputado mais
influente do Parlamento brasileiro.
Em 2009, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados pela
terceira vez. Contando com o apoio de quinze partidos, que iam do PSDB ao PT e
mais o incondicional apoio de Lula.
DAS PASSAGENS AO
CASTELO DE AREIA
Em abril desse mesmo notável ano de 2009, o chamado Escândalo das Passagens Aéreas,
revelou que em janeiro de 2008, o nosso herói
viajara com familiares e amigos para Porto Seguro, na Bahia, em voos custeados por sua cota parlamentar – quer dizer
com dinheiro público; com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro.
Sua assessoria tirou de letra: reconheceu o uso para familiares,
mas alegou que na época ele agiu conforme as regras da Câmara dos Deputados.
Eis que chega dezembro de 2009... O nome da rosa foi citado 21
vezes na Operação Castelo de Areia, que investigava crimes financeiros e lavagem de
dinheiro no Grupo Camargo Corrêa. Nas planilhas da empreiteira, uma surpresa: o nosso notável
senhor foi citado ao lado de valores que bateram nos US$ 345 mil dólares, no
farto e gordo período de 1996 a 1998.
Nosso esgrimista predileto defendeu-se jurando que recebeu
apenas doações legais da Camargo Corrêa. Então tá. Acontece que nenhuma de suas
doações declaradas à Justiça na eleição de 1998 foi da Camargo Corrêa.
DE MENSALÃO ÀS CURVAS
DO PORTO DE SANTOS
Naquele mesmo dezembro de 2009, ele foi citado como beneficiário do escândalo do Mensalão no Distrito Federal.
Em um dos vídeos divulgados pelo site Congresso em Foco, o empresário
Alcyr Collaço afirmava ao secretário Durval Barbosa, que o nosso impoluto espadachim recebia 100 mil reais
mensais do então governador Zé Roberto Arruda em
troca de apoio político.
Naquele preciso tempo em que os bichos falavam e andavam pra
gente, o vulto de nossa admiração classificou sua citação como uma
"vilania sem tamanho", uma coisa "irresponsável e
descabida". E pronto, matou o
assunto.
Em abril de 2011, soube-se
– todo mundo ficou sabendo – que o cidadão já acostumado a toda e qualquer
suspeita fazia parte de um inquérito no Supremo Tribunal Federal por ter recebido propina de empresas prestadoras de serviços ao movimentado porto de Santos.
Uma acusação antiga. Velha conhecida desde
2000. Em novembro de 2002, o procurador-geral Geraldo Brindeiro arquivou o
processo por entender que não havia provas
suficientes.
O que o Brasil esquece é que um réu que não é
condenado por “falta de provas”, não é alguém absolvido por que seja inocente.
Por isso mesmo, em 2006, a Polícia
Federal abriu um novo inquérito sobre o caso. No vai da valsa, porém, em maio de
2011, o indefectível ministro Marco Aurélio Mello excluiu o
alvo da inominável perseguição do dito cujo inquérito.
O prolixo e infalível ministro achou
simplesmente que “não havia novos fatos” contra o vice-presidente desde o
arquivamento feito por Brindeiro. Uma vez mais, absolvido. Não por ser
inocente, mas por não haver novidade nenhuma. O nosso admirável homem novo negou que tenha recebido
propina.
O DUPLO SENTIDO
E assim se abrevia a narrativa de um
cidadão acima de qualquer suspeita. Não porque não seja suspeito; sim porque
esteja acima de qualquer uma delas.
Como se pode depreender, não se há de
prender alguém só porque seja a alma gêmea do mordomo desse filme de vampiro
que aterroriza esta nação.
O que não se pretende aqui é que as
pessoas de boa índole, os homens de boa vontade, os brasileiros comuns, os descamisados
e pés descalços sejam levados a fazer o papel de sonsos diante de uma história
de duplo sentido, sem que entendam nenhum dos dois.
ENTRELINHAS – O direito
formal é o verdugo nobre e elegante do direito moral.
RODAPÉ – Os israelitas
construíram o muro das lamentações, porque na época não lhes passou pela cabeça
criar a Wall Street.
