PONTOS A PONDERAR...
Por: Sérgio A. O. Siqueira
Porque hoje é sábado / Não se avexe não, o Brasil é o País da mutreta. / Porque hoje é sábado / Nunca digam ao STF para abrir a caixa-preta.
01.
HORRENDA SEXTA-FEIRA
Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. A coisa da prisão arbitrária é a outra coisa. Deveria ser. Não foi.
Ao deixar de lado a extravagância suprema da prisão de Daniel Silveira, o deputado boquirroto, a execrável sessão da Câmara de Deputados dessa horrenda sexta-feira, 19 de fevereiro de 2020, teve a faculdade de mostrar a subserviência do Poder Legislativo à Supremacia da Magna Corte de Justiça, sede da ditabranda que governa de fato o país e desgoverna a combalida e corrompida democracia brasileira.
Nada mais do que pequenez e medo disfarçado de respeito se poderia esperar de uma casa que, dentre seus 513 parlamentares, abriga nada menos do que 299 deles comprometidos com pendengas na Justiça que estão na iminência de sair das gavetas das eminências que ocupam os 11 cargos de confiança mais empoderados dessa democracia de gaveteiros.
RODAPÉ NOS NOSSOS FUNDILHOS – Bem feito para nós que assistimos placidamente os nossos milhões e milhões de votos serem dizimados, reduzidos a nada, noves fora zero, diante do domínio implacável de 11 servidores públicos emplacados, cada um deles, com um único e estupendo voto de confiança, do seu padrinho, o presidente da República na ocasião.
02.
SALVO AS EXCEÇÕES
O Consórcio de Jornalojistas se prestou para ouvir o tal de Marcelo Freixo, deputado federal pelo tal de PSOL que não nasceu para todos, só para uns que outros:
"Nenhum de nós, nós da esquerda, nós do centro, nós da direita, não os fanáticos, não usamos a imunidade parlamentar para cometer crime. É esse o debate que a gente fazendo aqui. A imunidade parlamentar custou caro, porque a democracia custou caro."
Ah tá, captamos a mensagem, amado mestre: os crimes são cometidos até mesmo sem a preocupação de usar a tal de imunidade parlamentar. Salvo horrorosas exceções, é claro.
03.
BONS TEMPOS AQUELES... OU: QUE CAIXA-PRETA?!?
Era uma vez...uma reunião, no dia 23 de abril de 2003, em Vitória, no Espirito Santo, sobre o combate ao crime organizado. Lulavagem da Silva, recém-empossado presidente dessa joça, ameaçou instalar na sua já República dos Calamares o que chamou de ‘Controle Externo do Judiciário’.
A ideia era passar a ideia de ‘abrir a caixa-preta’ de um poder que, ele dedurou naquele dia sem papas na língua presa, como ‘um poder que se sente intocável’.
Bonito e contundente, né não?!? Mas era só jogo de cena: como se sabe Lulavagem sempre que diz uma coisa... é outra coisa.
Era, os que não se distraem logo perceberam, o início sonoro de um silencioso troca-troca de enormes segredos de liquidificador para que, logo em seguida, fosse colocada em prática a ambição de um governante que nunca teve um programa de governo, apenas um ambicioso plano de poder.
Mas vamos em frente que atrás vem gente. Para isso voltemos ao que era o princípio e ficou para o todo sempre até hoje, amém... Lulavagem defendeu lindamente naquele dia uma Justiça igual para todos e até andou citando Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião: “Como dizia Lampião, em 1927, neste país, quem tiver 30 contos de réis não vai para a cadeia”...
E Lulavagem também da Silva como Virgulino Ferreira, e Luladino como ele só, disse mais: "É por isso que nós defendemos há tanto tempo o controle externo do Poder Judiciário. Não é meter a mão na decisão do juiz. É pelo menos saber como funciona a caixa-preta de um Judiciário que muitas vezes se sente intocável".
Os habitantes da Taba das Togas daquela época até torceram o nariz e coisa e tal, mas nenhum deles teve o peito e a coragem de bancar o Leixandre da hora e mandar prender o Lulavagem da Silva.
Talvez tenha sido até por isso mesmo que, logo em seguida a ‘abertura da caixa-preta’ virou um desenfreado aparelhamento da Corte – Lulavagem no seu tempo de governo nomeou 8 ministreis. Isso redundou no estabelecimento de um patronato lulático que perdura até os dias de hoje e, pelo que se vê, assim se manterá como uma espécie de casamento com repartição de bens, até que a morte os separe.
RODAPÉ NOS FUNDILHOS – Até hoje o assunto é tabu entre os juízes e os ungidos pela pior safra de presidentes que uma democracia pode aguentar. A maioria esmagadora deles rejeita qualquer tentativa de controle externo do Poder Judiciário. A alegação é manjada: a interferência do Executivo fere de morte a independência entre os Poderes.
SCRIPTUM POST – Sei lá, mas me parece que chegou a hora da Reforma do Judiciário. Uma coisa séria que não se pareça nem de longe com a reforma proposta lá naquelas priscas eras pelo já falecido Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça de Lulavagem.
Essa
proposta de reforma em feitio de ameaça de abertura da tal caixa-preta, ainda
dorme nas gavetas indevassáveis da Câmara dos Deputados, a mesma Câmara que
ontem se confessou expert em vassalagem e se mostrou pequena em toda a sua
enorme extensão diante da reduzida Corte Imperial das Togas da Mironga.
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