PONTOS
A PONDERAR...
Por: Sérgio A. O. Siqueira
Porque
hoje é terça-feira / Palpita em cada peito varonil
Porque
hoje é terça-feira / Uma tardia desobediência civil
UMA NAÇÃO NO
CONE SUL DO MUNDO
ACABOU COM A
SUPREMACIA DA TOGA DA MIRONGA
Era
uma vez... Uma república democrática engavetada no Cone Sul do mundo, mandada,
comandada e desmandada por um conglomerado de super-poderes que se valia das
leis para burlar as leis, assim consolidando sua Supremacia Absoluta.
Era
uma Supremacia de apenas e tão somente 11 semideuses abençoados pelos piores
plantonistas da história da Presidência daquela populosa República Federativa
do Cone Sul do mundo. Para os 11 luminares republicanos chegarem ao Panteão
latino-americano, foram precisos meros e calhordas canetaços constitucionais de
apenas seis deploráveis presidentes.
Quer
dizer então que, somando seis mais onze, chegava-se a 17 notórias figuras que se
apropriaram dos destinos daquela pobre e escravizada nação de milhões e milhões
de obedientes súditos amestrados e travestidos com o manto do mais consentido
temor servil.
Assim
sendo, eis que, de repente, trombetas passaram a ressoar no corpo e na alma dos
milhões de habitantes contra aquele excesso, aquela concentração de poder
desmedido nas mãos e no espírito de porco dominador e sufocante de 11 mais seis
donos dos destinos de sua pátria, amada, do Cone Sul do mundo.
Cruz,
credo, Ave-Maria, bico-de-pato, mangalô, três vezes... O populacho descobriu
que milhões e milhões podem mais, muito mais, infinitamente mais, do que uma
pandilha, um grupelho de 11, mais meia dúzia de mequetrefes empoderados, com
base numa Constituição que se constituía então numa aberração disfarçada de
Justiça.
O
POVO DESANCA O PODER
Então,
como acabar com aquela Supremacia desvairada?!? Fácil: usando a lei sem esperar
pelos tais homens-da-lei. Primeira providência: como eles eram 11 semideuses,
definitivos juízes finais, depois que decidiam não havia nenhuma outra
instância para qual se pudesse apelar – nem a sociedade podia e nem eles próprios
tampouco.
Então,
a saída foi que ninguém daquela sociedade dos humanos cumprisse ou obedecesse
aos tais arcanos tão prepotentes quanto despreparados e arrogantes, de tal
maneira que ninguém abaixo deles – quer dizer a população inteira daquela
democracia de gaveta – obedeceria mais o que eles mandavam e desmandavam fosse
lá o que quer que fosse. O povo passou a desconhecer a divindade deslumbrada.
Para
isso, a população contou com a própria desobediência civil das instituições que
estavam funcionando. Assim como nenhuma casta social, nenhuma entidade pública
e privada fazia ou mandava fazer o que os 11 mais seis da Supremacia Absoluta
ordenavam fazer ou acatar.
Logo
todos – sociedade e instituições – desobedeceram às leis e ordens injustas e
estapafúrdias, abalaram as estruturas e desandaram o poder tirânico dos 11
donos da República da Toga da Mironga.
Só
precisaram para isso e para chegar a tanto, ter a coragem de desobedecer com
disciplina e determinação aos 11 portadores de poderes quase sobrenaturais.
Bastou
a esse povo da República Democrática no Cone Sul do mundo que deixasse de ser
uma multidão dispersa. Juntaram-se todos, cidadãos indignados, para ignorar e
não cumprir qualquer decisão ou ordem que viesse dos tais 11 cortesãos,
afilhados dos seis mandarins que os apadrinharam.
E,
com os semideuses prostrados em oblação diante do povo, veio então a segunda
providência: escarafuncharam para valer o passado e o presente de cada um deles
e, como conseqüência inevitável, transferiram seus domicílios e residências, de
um por um dos seis construtores da Supremacia Absoluta, para o calabouço que
fizeram e continuavam fazendo por merecer.
Esta
foi a parte mais fácil da retomada da democracia para aquele país no Cone Sul
do mundo: seu currículos foram o passado que os condenou. Ficou fácil quando o
povo fez com que todo o poder emanasse do povo e, em nome do povo, fosse como
vem sendo exercido.
RODAPÉ
– Aqui, no Brasil, no dia
6 de dezembro de 2016, o senador Renan Calheiros, fazendeiro-fantasma das
Alagoas, mandou às favas uma liminar do semideus Big-McAuréolo do STF que o
afastava da presidência do Senado.
Não
assinou a notificação que ordenava o seu afastamento do comando da Casa dos
Lordes e, pronto. Deixou o oficial de Justiça aguardando durante seis horas, sem
nenhum sucesso, para lhe entregar a notificação do Supremo Tribunal Federal.
Não que
Renan seja um modelo de virtudes e de bondade, mas naquele dia ele nos mostrou
o caminho das pedras. E nós, palermas aqui da planície, não nos demos conta de
que, quando a última instância do poder é contrariada, nem mesmo o poderoso de
plantão tem como, nem o que e nem para quem apelar.
Mas esta
história aqui do Renan se passou no Brasil e qualquer semelhança com pessoas,
coisas ou fatos, com a República da Toga da Mironga terá sido mera
coincidência.
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