A AUTOFÁGICA GERAÇÃO PÓS-PANDEMÔNIO-CHINÊS
Eu sou da
chamada Geração Pós-Guerra. Em 1945, eu tinha cinco anos de idade quando a 2ª Grande
Guerra acabou, para começar então a tenebrosa recessão mundial, rescaldo falimentar
da hecatombe que atingiu a economia do mundo e a organização da sociedade...
Aquela
Grande Guerra, apesar das lagartas dos tanques e do terror das baionetas, não
matou a dignidade e nem abalou a esperança da humanidade que restou.
A recessão
mundial, para mim, era tão assombrosa e tão grande que não cabia todinha lá
dentro de casa. Tanto é que logo em seguida ela se espalhou por toda a minha cidade
e, não demorou nadinha eu percebi que a recessão se foi à la gaita pelo Rio
Grande do Sul afora e dali se agarrou com unhas e dentes ao Brasil de cima a
baixo. Quando vi, a recessão era mundial. Tão mundial quanto tinha sido a 2ª
Grande Guerra.
Mas, aos
poucos, eu vi que o mundo tinha aprendido a lição. Não tinha fome de pão e
leite; tinha um apetite voraz de reconstrução, de reorganização e de paz. Eu
fui crescendo e assistindo o mundo a se reerguer, se reorganizar.
Vi o Brasil
se levantando, meio que aos trancos e barrancos; notei que o meu Rio Grande
voltava a ser Do Sul, da cuia e bomba, das guaiacas recheadas; e me acostumei a
ver que o padeiro e o leiteiro deixavam o pão e o leite na soleira da porta lá
de casa... E ninguém mexia, ninguém bulia.... Era uma geração pós-guerra solidária
e honesta.
Hoje, o
mundo vive mais um pandemônio-chinês. Não é o primeiro, de lá pra cá, mas este veio
arrasador. Pegou-nos desprevenidos.
Os grandes líderes, da nossa casa, da nossa
rua, do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso estado, do nosso país, do mundo
inteiro estão atônitos, batendo cabeça e com a língua nos dentes.
Há um
confronto de ideias e prosopopeias que não se juntam, que não dizem coisa com
coisa. Uma torre de Babel hodierna que não levará tão cedo ao fim dessa
pandemia, porque se trata de uma nova Guerra Mundial.
Desta vez
sem tanques, sem baionetas, sem mísseis, sem foguetes esse Conflito Mundial é
silencioso e letal. Alguém quer ser o dono do mundo, o terráqueo senhor dono do
universo. Maléfico e doentio, ele faz adoecer o mundo inteiro.
E logo virá
a recessão. Mais forte e pesada do que a recessão da minha tal de Geração Pós-Guerra.
E o pior é que hoje, o mundo não é o mesmo de ontem; o Brasil já não é o mesmo;
a minha cidade já não é mais aquela e esta Geração Pós-Coronavírus que está
perdendo a guerra, já perdeu há muito tempo a dignidade política; lá se foram
os fios de esperança e já perdemos, nós todos zumbis assustados, a noção de
que, tanto quanto a ciência de viver é importante e fundamental a arte da
convivência.
E já não é
mais tempo de pão e leite na soleira da porta.... Uns comerão o que é dos
outros. E logo uns comerão os outros.
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