28 de jul. de 2020


PONTOS A PONDERAR...
Por: Sérgio A. O. Siqueira

Porque hoje é terça-feira / Palpita em cada peito varonil
Porque hoje é terça-feira / Uma tardia desobediência civil

UMA NAÇÃO NO CONE SUL DO MUNDO
ACABOU COM A SUPREMACIA DA TOGA DA MIRONGA

Era uma vez... Uma república democrática engavetada no Cone Sul do mundo, mandada, comandada e desmandada por um conglomerado de super-poderes que se valia das leis para burlar as leis, assim consolidando sua Supremacia Absoluta.

Era uma Supremacia de apenas e tão somente 11 semideuses abençoados pelos piores plantonistas da história da Presidência daquela populosa República Federativa do Cone Sul do mundo. Para os 11 luminares republicanos chegarem ao Panteão latino-americano, foram precisos meros e calhordas canetaços constitucionais de apenas seis deploráveis presidentes.

Quer dizer então que, somando seis mais onze, chegava-se a 17 notórias figuras que se apropriaram dos destinos daquela pobre e escravizada nação de milhões e milhões de obedientes súditos amestrados e travestidos com o manto do mais consentido temor servil.

Assim sendo, eis que, de repente, trombetas passaram a ressoar no corpo e na alma dos milhões de habitantes contra aquele excesso, aquela concentração de poder desmedido nas mãos e no espírito de porco dominador e sufocante de 11 mais seis donos dos destinos de sua pátria, amada, do Cone Sul do mundo.

Cruz, credo, Ave-Maria, bico-de-pato, mangalô, três vezes... O populacho descobriu que milhões e milhões podem mais, muito mais, infinitamente mais, do que uma pandilha, um grupelho de 11, mais meia dúzia de mequetrefes empoderados, com base numa Constituição que se constituía então numa aberração disfarçada de Justiça.

O POVO DESANCA O PODER

Então, como acabar com aquela Supremacia desvairada?!? Fácil: usando a lei sem esperar pelos tais homens-da-lei. Primeira providência: como eles eram 11 semideuses, definitivos juízes finais, depois que decidiam não havia nenhuma outra instância para qual se pudesse apelar – nem a sociedade podia e nem eles próprios tampouco.

Então, a saída foi que ninguém daquela sociedade dos humanos cumprisse ou obedecesse aos tais arcanos tão prepotentes quanto despreparados e arrogantes, de tal maneira que ninguém abaixo deles – quer dizer a população inteira daquela democracia de gaveta – obedeceria mais o que eles mandavam e desmandavam fosse lá o que quer que fosse. O povo passou a desconhecer a divindade deslumbrada.

Para isso, a população contou com a própria desobediência civil das instituições que estavam funcionando. Assim como nenhuma casta social, nenhuma entidade pública e privada fazia ou mandava fazer o que os 11 mais seis da Supremacia Absoluta ordenavam fazer ou acatar.

Logo todos – sociedade e instituições – desobedeceram às leis e ordens injustas e estapafúrdias, abalaram as estruturas e desandaram o poder tirânico dos 11 donos da República da Toga da Mironga.

Só precisaram para isso e para chegar a tanto, ter a coragem de desobedecer com disciplina e determinação aos 11 portadores de poderes quase sobrenaturais.

Bastou a esse povo da República Democrática no Cone Sul do mundo que deixasse de ser uma multidão dispersa. Juntaram-se todos, cidadãos indignados, para ignorar e não cumprir qualquer decisão ou ordem que viesse dos tais 11 cortesãos, afilhados dos seis mandarins que os apadrinharam.

E, com os semideuses prostrados em oblação diante do povo, veio então a segunda providência: escarafuncharam para valer o passado e o presente de cada um deles e, como conseqüência inevitável, transferiram seus domicílios e residências, de um por um dos seis construtores da Supremacia Absoluta, para o calabouço que fizeram e continuavam fazendo por merecer.

Esta foi a parte mais fácil da retomada da democracia para aquele país no Cone Sul do mundo: seu currículos foram o passado que os condenou. Ficou fácil quando o povo fez com que todo o poder emanasse do povo e, em nome do povo, fosse como vem sendo exercido.

RODAPÉ – Aqui, no Brasil, no dia 6 de dezembro de 2016, o senador Renan Calheiros, fazendeiro-fantasma das Alagoas, mandou às favas uma liminar do semideus Big-McAuréolo do STF que o afastava da presidência do Senado.

Não assinou a notificação que ordenava o seu afastamento do comando da Casa dos Lordes e, pronto. Deixou o oficial de Justiça aguardando durante seis horas, sem nenhum sucesso, para lhe entregar a notificação do Supremo Tribunal Federal. 

Não que Renan seja um modelo de virtudes e de bondade, mas naquele dia ele nos mostrou o caminho das pedras. E nós, palermas aqui da planície, não nos demos conta de que, quando a última instância do poder é contrariada, nem mesmo o poderoso de plantão tem como, nem o que e nem para quem apelar.

Mas esta história aqui do Renan se passou no Brasil e qualquer semelhança com pessoas, coisas ou fatos, com a República da Toga da Mironga terá sido mera coincidência.


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